terça-feira, 23 de novembro de 2010

"Ter parceiro único pode se tornar coisa do passado" diz psicanalista

GISELA RAO
Colaboração para o UOL
Divulgação
Psicanalista Regina Navarro Lins:
Psicanalista Regina Navarro Lins: "Desde a pílula, o sexo se dissociou da procriação e se aliou ao prazer"
Regina Navarro Lins é psicanalista, escritora e autora de dez livros. Especializada em sexualidade - e com ideias que geram controvérsia até entre seus colegas de profissão -, ela concedeu uma entrevista exclusiva ao UOL Estilo Comportamento sobre os seus dois novos livros: “A Cama na Rede – O que os brasileiros pensam sobre amor e sexo” e “Se eu fosse você...- Uma reflexão sobre as experiências amorosas” (Editora Best Seller). Ambos são baseados na pesquisa que ela fez durante nove anos no seu site, que esteve no ar de 2000 a 2009. O lançamento dos livros acontece nesta quinta (25), às 19h, na Livraria da Travessa do Shopping Leblon, no Rio de Janeiro, onde a autora participa de um debate sobre relacionamento amoroso e sessão de autógrafos.

UOL Estilo Comportamento - Os livros que estão sendo lançados reúnem material de seu site, um pioneiro no gênero. Como os internautas do início da década reagiam às questões íntimas colocadas na rede? Era diferente de hoje? A abertura foi imediata?
Regina Navarro Lins - Estamos no meio de um processo de profunda mudança das mentalidades que se iniciou nas décadas de 1960/197070, com o advento da pílula anticoncepcional e todos os movimentos de contracultura do período. As mudanças são graduais. Em 2000, quando o site entrou no ar, as pessoas já eram bem mais livres do que nas décadas anteriores. Embora alguns placares sejam surpreendentes: por exemplo, o da pergunta “Você gostaria de fazer sexo a três?”, que eu imaginei que muitas pessoas responderiam sim, mas nunca pensei que o percentual chegasse a 77%. O anonimato facilita dizer o que se deseja e não se tem coragem de revelar aos outros. Nos últimos anos, mais casais passaram a frequentar casas de swing, onde fazem sexo com mais de uma pessoa.
 
Essa nova realidade – das novas tecnologias de comunicação - está mudando os relacionamentos?
Acredito que sim. Os relacionamentos virtuais estão contribuindo para a tendência de se amar mais de uma pessoa ao mesmo tempo. Quando alguém está num chat conversando, ou fazendo sexo, pode trocar de parceiro com muita facilidade. São apenas dois cliques no teclado. É claro que não é só isso; existem outros fatores.
 
Quais são eles?
O amor romântico, pelo qual a maioria de homens e mulheres do Ocidente tanto anseiam se caracteriza pela idealização do outro e traz a ideia de que você tem de encontrar alguém que te complete, sua alma gêmea. Esse tipo de amor prega a fusão total entre os amantes e a ideia de que os dois se transformarão num só. Agora, a busca da individualidade caracteriza a época em que vivemos; nunca homens e mulheres se aventuraram com tanta coragem em busca de novas descobertas, só que, desta vez, para dentro de si mesmos. Cada um quer saber quais são suas possibilidades, desenvolver seu potencial. O amor romântico propõe o oposto disso, na medida em que prega a fusão de duas pessoas. Ele então começa a deixar de ser sedutor. Um amor baseado na amizade e no companheirismo está surgindo. Haverá menos idealização e você vai poder perceber melhor o outro. O amor romântico está saindo de cena e levando com ele a sua principal característica: a exigência de exclusividade. Sem a ideia de encontrar alguém que te complete, abre-se um espaço para outros tipos de relacionamento, com a possibilidade de se amar mais de uma pessoa de cada vez, ou seja, o poliamor.
  • Getty Images/Thinkstock "Sem a ideia da alma gêmea, abre-se espaço para outros tipos de relacionamento, como o poliamor", diz a psicanalista
No livro “A Cama na Rede”, você faz 50 perguntas e as pessoas respondem “sim” ou “não”, além de relatarem o que pensam. No final, você comenta as respostas. No comentário sobre a questão da fidelidade, você diz: “Alguns não concordam com a ideia de posse, que é a tônica da maioria das relações estáveis. Para eles, a fidelidade está no sentimento recíproco que nutrem e nas razões que sustentam a própria vida a dois. Mas isso não tem nada a ver com ter ou não relações sexuais com outra pessoa.” A quantas anda a fidelidade, que é tão cobrada entre os casais?
Os relacionamentos virtuais estão contribuindo para a tendência de se amar mais de uma pessoa ao mesmo tempo
De uma maneira geral, numa relação estável, as cobranças de “fidelidade” são constantes e é natural sua aceitação. Severa vigilância é exercida sobre os parceiros. Isso não adianta muito, já que, na realidade, todos são afetados por estímulos sexuais novos, vindos de outras pessoas que não os parceiros fixos. Esses estímulos existem e não podem ser eliminados. Mas o medo de ficar sozinho é tanto que é difícil encontrar quem reivindique privacidade e tenha maturidade emocional para aceitar que o desejo por outras pessoas, assim como a relação com elas, é absolutamente natural.
 
Qual foi o percentual de pessoas infiéis que você encontrou na sua pesquisa?
Nesta questão, 72% disseram que já foram infiéis e explicaram suas razões. Apesar de todos os ensinamentos que recebemos desde que nascemos – família, escola, amigos, religião – que nos estimulam a investir nossa energia sexual em uma única pessoa, a prática é bem diferente. Mas na maioria das vezes, é escondido. Como eu disse na pergunta anterior, o amor que conhecemos começa a sair de cena, levando com ele a idealização do par romântico, com a ideia de os dois se transformarem num só. A exigência de exclusividade, que daí se origina, começa a perder a importância. Acredito que num futuro próximo seremos mais livres para dar vazão aos nossos desejos e teremos plenas possibilidades de viver sem culpas. Talvez seja possível ter relações estáveis com várias pessoas ao mesmo tempo, escolhendo-as pelas afinidades. Quem sabe uma para ir ao cinema e teatro, outra para conversar, outra para viajar, uma parceria especial para o sexo, e assim por diante? A ideia de que um parceiro único deva satisfazer todos os aspectos da vida tem grandes chances de se tornar coisa do passado.
 
Você encontra, na sua área, profissionais que pensam como você?
Não. Existiram dois, que infelizmente já faleceram, Roberto Freire e José Ângelo Gaiarsa. Os profissionais que tratam das relações amorosas me impressionam. Pesquisando o que pensam sobre as motivações que levam a uma relação extraconjugal na nossa cultura, fiquei bastante surpresa. As mais diversas justificativas apontam sempre para problemas emocionais, insatisfação ou infelicidade na vida a dois. Não li em lugar algum o que me parece mais óbvio: embora haja insatisfação na maioria dos casamentos, as relações extraconjugais ocorrem, principalmente, porque as pessoas gostam de variar. O casamento pode ser plenamente satisfatório, do ponto de vista afetivo e sexual, e mesmo assim as pessoas terem relações extraconjugais. Penso que está mais do que na hora de se refletir sobre a questão da exclusividade. Essa é a maior preocupação das pessoas, mas ninguém deveria ser cobrado por isso. Em vez de nos preocuparmos se nosso parceiro (a) transou com outra pessoa, deveríamos apenas responder a duas perguntas: “Me sinto amado (a)? Me sinto desejado (a)? Se a resposta for positiva, ótimo. O que o outro faz quando não está comigo não é da minha conta, não me diz respeito. Não tenho dúvida que assim as pessoas viveriam muito melhor.
O amor romântico está saindo de cena e levando com ele a sua principal característica: a exigência de exclusividade
 
No livro há a questão: “Ciúme faz parte do amor? Qual foi a pior cena de ciúme que você já fez?”. E 56% responderam que “sim”. Há relatos de quem não consegue se controlar e também de quem acredita que ciúme em pequenas doses faz bem. O que você pensa sobre o ciúme?
Não concordo que o ciúme faça parte do amor. As pessoas foram condicionadas a acreditar nisso. É comum encontrarmos pessoas que sentem muito ciúme mesmo sem amar o outro. Não é fácil lidar com o ciúme, porque o adulto aprendeu a viver o amor de um modo que é, em quase todos os aspectos, semelhante à forma da relação amorosa vivida com a mãe pela criança pequena. Por se sentir constantemente ameaçada de perder esse amor — sem o qual perde o referencial na vida e também fica vulnerável à morte física — a criança se mostra controladora, possessiva e ciumenta, desejando a mãe só para si. Quando surge uma relação amorosa, os adultos passam de uma dependência para outra. Assim, é por intermédio da pessoa amada que se tenta satisfazer as necessidades infantis. Reeditando a mesma forma primária de vínculo com a mãe, o antigo medo infantil de ser abandonado reaparece e a pessoa amada se torna imprescindível. Não se pode correr o risco de perdê-la. O controle, a possessividade e o ciúme passam, então, a fazer parte da relação.
 
É possível se deixar de sentir ciúme?
Penso que sim. Independentemente da forma como o ciúme se apresente — discreto ou exagerado —, ele é sempre tirano e limitador. Não só para quem ele é dirigido, mas também para quem o sente. Quando a pessoa consegue elaborar bem a dependência infantil e também se libertar da submissão aos valores morais, percebe-se menos ciumenta. Caso contrário, é difícil ter autonomia suficiente, e podem reaparecer as antigas inseguranças, com exigência de exclusividade no amor. Como são poucos os que se sentem autônomos, observa-se uma busca generalizada por vínculos amorosos que permitam aprisionar o parceiro, mesmo à custa da própria limitação. A questão do ciúme também está ligada à imagem que cada um faz de si. Quem tem a autoestima elevada e se considera interessante e com muitos atrativos não supõe que será trocado com facilidade. E se tiver desenvolvido a capacidade de ficar bem sozinho, sem depender de uma relação amorosa, melhor ainda. Pode até sofrer em caso de separação, mas tem certeza de que vai continuar vivendo sem desmoronar.
 
Em “A Cama na Rede”, quando você pergunta se com o tempo o tesão pelo parceiro (a) diminui, 72% respondem que “sim”. Um internauta colocou a seguinte questão: “Tenho 28 anos, sou casado há cinco, e estou preocupado com o meu relacionamento, pois minha esposa anda meio fria, sem apetite sexual. Não me procura mais e quando estou a fim ela nem dá bola. Eu acho que ela não tem amante, mas temos um filho de dois anos. O que faço?” Esse é um problema comum no casamento?
É muito comum. Costumo dizer que o casamento é onde menos se faz sexo. Muitas mulheres amam seus maridos, não conseguem imaginar a vida sem eles, gostam de ficar abraçadas, bem junto, fazendo carinho. Só não sentem desejo sexual algum. Algumas se esforçam para que o desejo volte a existir: fazem promessas, vão a motéis, organizam viagens de fim de semana para lugares bucólicos, abrem um champanhe. Mas não tem jeito. Desejo não se força, existe ou não.
 
E por que o tesão acaba no casamento?
Existem os motivos sempre alegados: excessiva intimidade, excessiva familiaridade. Mas acredito que o principal motivo é pouco falado: a exigência de exclusividade. No casamento, é comum as pessoas se tornarem emocionalmente dependentes um do outro. Para se sentirem seguras, elas exigem exclusividade, controlam a vida do (a) parceiro (a). A questão é que a certeza de posse e exclusividade leva ao desinteresse, por eliminar a sedução e a conquista.
 
O que fazer quando o tesão acaba?
Durante muitos séculos o sexo foi considerado abominável. Afinal, controlar o prazer das pessoas é controlar as pessoas
Essa é uma questão séria, principalmente para os que acreditam ser importante manter o casamento. As soluções são variadas: alguns fazem sexo sem vontade, só para manter a relação, outros optam por continuar juntos, vivendo como irmãos, como se sexo não existisse, e ainda existem aqueles que passam anos se torturando por não aceitar se separar nem viver sem sexo. Penso que a única forma de mudar essa situação que atinge tantos casais é reformular as expectativas que são criadas a respeito da vida a dois, como as ideias de que os dois vão se transformar num só, que quem ama não faz sexo com mais ninguém, e outras tantas mentiras criadas para aprisionar as pessoas e tornar a vida delas bastante insatisfatória.
 
No novo livro há relatos bem interessantes de pessoas que foram trocadas por outro (a). O percentual dos que viveram essa experiência chega a 72%. É muito difícil se recuperar depois disso? Quando alguém é trocado por outro numa relação amorosa, o sofrimento é intenso e é difícil elaborar essa perda. A falta da pessoa amada provoca uma sensação de vazio e desamparo. Se o parceiro prefere outra pessoa para viver ao seu lado, quem é excluído se sente profundamente desvalorizado, com a autoestima bastante abalada. É comum numa situação de rejeição serem reeditadas inconscientemente todas as rejeições sofridas desde a infância, exacerbando a dor do momento. Sem que se perceba, chora-se naquela perda todas as outras anteriores. Mas ser trocado por outro não significa que se é inferior. Em muitos casos, a troca ocorre porque a pessoa, objeto da nova paixão, possui algum aspecto que satisfaz inconscientemente uma exigência momentânea do outro, sem haver uma vinculação necessária com o parceiro rejeitado.
 
“Existe algo no sexo que você gostaria de experimentar? O quê?” Essa questão teve 95% de “sim”, no livro “A Cama na Rede”. A maioria das pessoas vai morrer sem satisfazer seus desejos sexuais?
Durante muitos séculos o sexo foi considerado abominável. Afinal, controlar o prazer das pessoas é controlar as pessoas. Encontramos ainda muita gente com inibições, censuras e tabus. As pessoas sofrem com seus desejos, fantasias, culpas, medos, vergonha... Quantos desejos são reprimidos por fugirem do padrão estabelecido? Mas as mentalidades estão mudando. Desde a pílula, o sexo se dissociou da procriação e se aliou ao prazer. E as pessoas passaram a desenvolver cada vez mais o prazer sexual.
 
No livro “Se eu fosse você...”, há narrativas de mulheres preocupadas com desejos não convencionais dos parceiros, como a estimulação anal. A homossexualidade é um fantasma nas relações?
A estimulação anal é muito excitante para homens e mulheres, que mesmo sem penetração muitas vezes se toca nessa área durante o ato sexual. Mas são poucos os homens que não se retraem quando a mulher tenta introduzir o dedo ou apenas acariciar seu ânus. O pavor de se imaginarem homossexuais faz com que percam a oportunidade de experimentar uma nova sensação de prazer. Ter prazer com a estimulação do ânus não significa absolutamente homossexualidade, que se caracteriza pela escolha do objeto de amor — uma pessoa do mesmo sexo — e nunca pela área do corpo que proporciona prazer.   
 
Você está escrevendo o seu 11º livro, “O Livro do Amor”, há quatro anos, e será lançado no final de 2011. Como você aborda o amor nesta obra?
O amor e o sexo estão entre as principais causas do sofrimento humano, obviamente excluindo a miséria e a doença. Todos os outros livros que escrevi tratam de relacionamento amoroso, mas senti necessidade de aprofundar o tema. Neste livro, faço uma grande viagem. Começo na pré-história e sigo por Grécia, Roma, Antiguidade Tardia, Idade Média, Renascença, Iluminismo, século XIX, século XX e atualidade. Aponto também as tendências para o futuro. Fiz uma grande pesquisa. O amor é uma construção social, e em cada época se apresenta de uma forma. Isso significa que pode mudar completamente daqui em diante também. Neste momento, os padrões tradicionais de comportamento não estão dando mais respostas. Não tendo mais modelos para se apoiar, abre-se a possibilidade de cada um escolher sua forma de viver. Penso que a leitura do livro contribuirá para a mudança das mentalidades, para que as pessoas possam viver com mais prazer.

terça-feira, 16 de novembro de 2010

Sono consolida memórias e emoções

altPorque gastamos cerca de um terço de nossas vidas dormindo?É um dos mistérios que a ciência vem propondo-se a explicar e que pesquisas recentes estão começando a dar respostas.
Pesquisas recentes sugerem que o sono ajuda a consolidar memórias, fixando-as no cérebro, para que possamos recuperá-las posteriormente, enquanto outras pesquisas sugerem que o sono parece também reorganizar memórias, escolhendo os detalhes emocionais e reconfigurando as memórias para ajudar a produzir idéias novas e criativas.
Essas explicações são discutidas em um artigo na "Current Directions in Psychological Science, uma publicação da Association for Psychological Science.” “O sono é o que torna as memórias mais fortes”, diz Jessica Payne, Ph. D, da Universidade de Notre Dame, que co-escreveu o artigo com Elizabeth A. Kensinger, Ph. D, do Boston College.
"Ele (o sono) também parece estar fazendo algo que eu acho que é muito mais interessante, e que é a reorganização e reestruturação das memórias."
Outra questão interessante neste estudo é que durante o sono, a pessoa que sonha tende a "cair" no lado mais emocional da memória. Por exemplo, se alguém é mostrada uma cena, como um carro destruído em primeiro plano, eles são mais propensos a lembrar o objeto emocional (carro destruído) que, por exemplo, as palmeiras no fundo, particularmente se eles são testados após uma noite de sono. Eles também mediram a atividade cerebral durante o sono e descobriu que regiões do cérebro envolvidas com a consolidação de emoção e memória estão ativas.
O cérebro está ativamente trabalhando enquanto dormimos no processo de consolidação das memórias, organização e escolha das informações mais importantes. Além disso, participa da elaboração de idéias novas no processo de criatividade.
"Podemos ir longe com menos horas de sono, mas tem um efeito profundo em nossas habilidades cognitivas." dizem as pesquisadoras.
Por: Kleyson Matos

terça-feira, 26 de outubro de 2010

CFP repudia demissão da psicóloga Maria Rita Kehl pelo jornal O Estado de S.Paulo

Nota do CFP em repúdio à demissão da psicóloga Maria Rita Kehl pelo jornal O Estado de S.Paulo

Diante da agressão à liberdade de expressão cometida pelo jornal O Estado de S. Paulo contra a psicóloga e psicanalista Maria Rita Kehl, o CFP emitiu a nota a seguir. Para o Conselho, o jornal deu exemplo de produção de alienação pois, ao mesmo tempo em que se diz ameaçado em sua liberdade de expressão, impede a emissão de opinião por articulista que ali escrevia há anos.

Nota:

CFP repudia demissão da psicóloga Maria Rita Kehl pelo jornal O Estado de S.Paulo

No dia 2 de outubro de 2010, a psicanalista e psicóloga Maria Rita Kehl, colunista do jornal O Estado de S. Paulo publicou artigo intitulado “Dois pesos” no qual questionou a desqualificação do voto da população pobre e fez comentários sobre o programa Bolsa Família, do governo Lula. O texto gerou grande repercussão na internet e mídias sociais nos últimos dias e culminou com a demissão da colunista no dia 6 de outubro. Segundo ela, a justificativa dada pelo jornal foi que Maria Rita cometeu um “delito” de opinião.

O Conselho Federal de Psicologia (CFP) repudia a demissão de Kehl, solidariza-se a ela e externa preocupação com a atitude do Estadão que, ao demitir uma articulista que se posiciona de maneira contrária ao discurso do jornal, fere o direito à liberdade de expressão e de pensamento. Ou não é para garantir a diversidade de opiniões que os jornais, além de editoriais, publicam artigos?

A grande mídia tem acusado o governo de cercear a liberdade de expressão e o Estadão há meses questiona um processo de censura. Entretanto, a demissão da colunista expõe a fissura entre o discurso da mídia que se diz ameaçada em sua liberdade de expressão e suas práticas cotidianas, restritivas à liberdade de opinião.
 
 Modificada em 11/10/2010
 

Maria Rita Kehl: "Fui demitida por um 'delito' de opinião"

Bob Fernandes


A psicanalista Maria Rita Kehl foi demitida pelo Jornal O Estado de S. Paulo depois de ter escrito, no último sábado (2), artigo sobre a "desqualificação" dos votos dos pobres. O texto, intitulado "Dois pesos...", gerou grande repercussão na internet e mídias sociais nos últimos dias.
Nesta quinta-feira (7), ela falou a Terra Magazine sobre as consequências do seu artigo:
- Fui demitida pelo jornal o Estado de S. Paulo pelo que consideraram um "delito" de opinião (...) Como é que um jornal que anuncia estar sob censura, pode demitir alguém só porque a opinião da pessoa é diferente da sua?

Veja trechos do artigo "Dois pesos".

Leia abaixo a entrevista.

Terra Magazine - Maria Rita, você escreveu um artigo no jornal O Estado de S.Paulo que levou a uma grande polêmica, em especial na internet, nas mídias sociais nos últimos dias. Em resumo, sobre a desqualificação dos votos dos pobres. Ao que se diz, o artigo teria provocado conseqüências para você...
Maria Rita Kehl -
E provocou, sim...

- Quais?- Fui demitida pelo jornal O Estado de S.Paulo pelo que consideraram um "delito" de opinião.

- Quando?
- Fui comunicada ontem (quarta-feira, 6).

- E por qual motivo?
- O argumento é que eles estavam examinando o comportamento, as reações ao que escrevi e escrevia, e que, por causa da repercussão (na internet), a situação se tornou intolerável, insustentável, não me lembro bem que expressão usaram.

- Você chegou a argumentar algo?- Eu disse que a repercussão mostrava, revelava que, se tinha quem não gostasse do que escrevo, tinha também quem goste. Se tem leitores que são desfavoráveis, tem leitores que são a favor, o que é bom, saudável...

- Que sentimento fica para você?- É tudo tão absurdo... A imprensa que reclama, que alega ter o governo intenções de censura, de autoritarismo...

- Você concorda com essa tese?- Não, acho que o presidente Lula e seus ministros cometem um erro estratégico quando criticam, quando se queixam da imprensa, da mídia, um erro porque isso, nesse ambiente eleitoral pode soar autoritário, mas eu não conheço nenhuma medida, nenhuma ação concreta, nunca ouvi falar de nenhuma ação concreta para cercear a imprensa. Não me refiro a debates, frases soltas, falo em ação concreta, concretizada. Não conheço nenhuma, e, por outro lado...

- ...Por outro lado...?- Por outro lado a imprensa que tem seus interesses econômicos, partidários, demite alguém, demite a mim, pelo que considera um "delito" de opinião. Acho absurdo, não concordo, que o dono do Maranhão (senador José Sarney) consiga impor a medida que impôs ao jornal O Estado de S.Paulo, mas como pode esse mesmo jornal demitir alguém apenas porque expôs uma opinião? Como é que um jornal que está, que anuncia estar sob censura, pode demitir alguém só porque a opinião da pessoa é diferente da sua?

- Você imagina que isso tenha algo a ver com as eleições?- Acho que sim. Isso se agravou com a eleição, pois, pelo que eles me alegaram agora, já havia descontentamento com minhas análises, minhas opiniões políticas.

Maria Rita Kehl: Dois pesos…

5 de outubro de 2010 às 20:23

DOIS PESOS…

por Maria Rita Kehl, no Estadão, via Vermelho

 
Este jornal teve uma atitude que considero digna: explicitou aos leitores que apoia o candidato Serra na presente eleição. Fica assim mais honesta a discussão que se faz em suas páginas. O debate eleitoral que nos conduzirá às urnas amanhã está acirrado. Eleitores se declaram exaustos e desiludidos com o vale-tudo que marcou a disputa pela Presidência da República. As campanhas, transformadas em espetáculo televisivo, não convencem mais ninguém. Apesar disso, alguma coisa importante está em jogo este ano. Parece até que temos luta de classes no Brasil: esta que muitos acreditam ter sido soterrada pelos últimos tijolos do Muro de Berlim. Na TV a briga é maquiada, mas na internet o jogo é duro.
Se o povão das chamadas classes D e E – os que vivem nos grotões perdidos do interior do Brasil – tivesse acesso à internet, talvez se revoltasse contra as inúmeras correntes de mensagens que desqualificam seus votos. O argumento já é familiar ao leitor: os votos dos pobres a favor da continuidade das políticas sociais implantadas durante oito anos de governo Lula não valem tanto quanto os nossos. Não são expressão consciente de vontade política. Teriam sido comprados ao preço do que parte da oposição chama de bolsa-esmola.
Uma dessas correntes chegou à minha caixa postal vinda de diversos destinatários. Reproduzia a denúncia feita por “uma prima” do autor, residente em Fortaleza. A denunciante, indignada com a indolência dos trabalhadores não qualificados de sua cidade, queixava-se de que ninguém mais queria ocupar a vaga de porteiro do prédio onde mora. Os candidatos naturais ao emprego preferiam viver na moleza, com o dinheiro da Bolsa-Família. Ora, essa. A que ponto chegamos. Não se fazem mais pés de chinelo como antigamente. Onde foram parar os verdadeiros humildes de quem o patronato cordial tanto gostava, capazes de trabalhar bem mais que as oito horas regulamentares por uma miséria? Sim, porque é curioso que ninguém tenha questionado o valor do salário oferecido pelo condomínio da capital cearense. A troca do emprego pela Bolsa-Família só seria vantajosa para os supostos espertalhões, preguiçosos e aproveitadores se o salário oferecido fosse inconstitucional: mais baixo do que metade do mínimo. R$ 200 é o valor máximo a que chega a soma de todos os benefícios do governo para quem tem mais de três filhos, com a condição de mantê-los na escola.
Outra denúncia indignada que corre pela internet é a de que na cidade do interior do Piauí onde vivem os parentes da empregada de algum paulistano, todos os moradores vivem do dinheiro dos programas do governo. Se for verdade, é estarrecedor imaginar do que viviam antes disso. Passava-se fome, na certa, como no assustador Garapa, filme de José Padilha. Passava-se fome todos os dias. Continuam pobres as famílias abaixo da classe C que hoje recebem a bolsa, somada ao dinheirinho de alguma aposentadoria. Só que agora comem. Alguns já conseguem até produzir e vender para outros que também começaram a comprar o que comer. O economista Paul Singer informa que, nas cidades pequenas, essa pouca entrada de dinheiro tem um efeito surpreendente sobre a economia local. A Bolsa-Família, acreditem se quiserem, proporciona as condições de consumo capazes de gerar empregos. O voto da turma da “esmolinha” é político e revela consciência de classe recém-adquirida.
O Brasil mudou nesse ponto. Mas ao contrário do que pensam os indignados da internet, mudou para melhor. Se até pouco tempo alguns empregadores costumavam contratar, por menos de um salário mínimo, pessoas sem alternativa de trabalho e sem consciência de seus direitos, hoje não é tão fácil encontrar quem aceite trabalhar nessas condições. Vale mais tentar a vida a partir da Bolsa-Família, que apesar de modesta, reduziu de 12% para 4,8% a faixa de população em estado de pobreza extrema. Será que o leitor paulistano tem ideia de quanto é preciso ser pobre, para sair dessa faixa por uma diferença de R$ 200? Quando o Estado começa a garantir alguns direitos mínimos à população, esta se politiza e passa a exigir que eles sejam cumpridos. Um amigo chamou esse efeito de “acumulação primitiva de democracia”.
Mas parece que o voto dessa gente ainda desperta o argumento de que os brasileiros, como na inesquecível observação de Pelé, não estão preparados para votar. Nem todos, é claro. Depois do segundo turno de 2006, o sociólogo Hélio Jaguaribe escreveu que os 60% de brasileiros que votaram em Lula teriam levado em conta apenas seus próprios interesses, enquanto os outros 40% de supostos eleitores instruídos pensavam nos interesses do País. Jaguaribe só não explicou como foi possível que o Brasil, dirigido pela elite instruída que se preocupava com os interesses de todos, tenha chegado ao terceiro milênio contando com 60% de sua população tão inculta a ponto de seu voto ser desqualificado como pouco republicano.
Agora que os mais pobres conseguiram levantar a cabeça acima da linha da mendicância e da dependência das relações de favor que sempre caracterizaram as políticas locais pelo interior do País, dizem que votar em causa própria não vale. Quando, pela primeira vez, os sem-cidadania conquistaram direitos mínimos que desejam preservar pela via democrática, parte dos cidadãos que se consideram classe A vem a público desqualificar a seriedade de seus votos.

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

O corpo cativo: sedução e escravidão feminina


Um dos grandes fenômenos nos dias atuais é o culto ao corpo, a um padrão de beleza idealizada, mistificada pela propaganda, imitação, modelagem exagerada que foge longe da realidade, antes as preocupações eram comportamentais, agora a imagem está à frente de qualquer objetivo.
A mídia tem uma grande parcela de responsabilidade nessa distorção dos conceitos de corpo belo e perfeito, afinal está aí para quem quiser ver e ouvir programas de televisão que mostram homens e mulheres com seus corpos perfeitos e músculos a mostra.
Esses programas só ajudam a reforçar o narcisismo contemporâneo e a sociedade capitalista, onde tudo está à venda, basta querer e poder. Produtos que auxiliam na redução de peso, medicamentos para reduzir o apetite, esteróides anabolizantes sendo vendidos livremente sem qualquer dificuldade para quem quer comprar.
A autora ressalta o lugar que o corpo ocupa para as camadas médias cariocas, afirmando que o corpo feminino valorizado atualmente é fruto do modelo de corpo veiculado pela mídia, o corpo magro, e que a convivência de valores e comportamentos tradicionais e modernos aparece também ao discutir a multiplicidade e a flexibilização dos arranjos conjugais, que é mostrada nas entrevistas feitas pela autora.
Ela compara as expectativas vivenciadas pelos homens e pelas mulheres e em sua pesquisa, destaca que: os homens observa mais a beleza o corpo e o olhar das mulheres enquanto que as mulheres o olhar, o charme, o sorriso, assim as mulheres equilibram as características físicas e os homens dão peso maior às características físicas.
Em se tratando de desejo a escravidão feminina vai além, procura com seu culto ao corpo despertar o desejo masculino, que nesta busca não se mede esforços na conquista para a conquista.
A obsessão pelo estereótipo modelo vai muito além, é um retrocesso de emancipação feminina que virou epidemia, elevando o Brasil para o primeiro do mundo em cirurgia plástica, é uma triste realidade,, pois cada vez mais jovens tornam-se escravo da beleza, pois são alvo fácil pelos seus manipuladores, que a cada dia embolsam mais e mais dinheiro.
Precisamos ter consciência do que pode ser bom ou ruim, pensar que um corpo magro e com músculos definidos não pode ser o único objetivo pelo qual se vive. Colocar a saúde e a qualidade de vida em primeiro plano pode ser a melhor idéia.

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Guias vai ensinar médicos do país a dar más notícias

médico e pacienteNotícias difíceis na área da saúde são o tema de um livro preparado pelo Inca (Instituto Nacional de Câncer) e o Hospital Albert Einstein.
A publicação é fruto de um programa para melhorar a transmissão de informações sobre diagnósticos, recidivas (reaparecimento da doença), efeitos colaterais ou esgotamento de opções terapêuticas. Deve ser distribuído na rede do Sistema Único de Saúde a partir de novembro.
A coordenadora da política de humanização no Inca, Priscila Magalhães, diz que, apesar de fazerem parte da rotina, más notícias causam sofrimento a médicos, enfermeiros e outros profissionais.
Sem saber como lidar com os próprios sentimentos, eles passam as informações de forma inadequada.
"O tema é pouco abordado em faculdades. Na medicina, em geral aparece apenas nas cadeiras de psicologia médica", diz Magalhães. Segundo ela, quando começam a trabalhar, "muitos não sabem lidar com essas limitações e as encaram como fracasso pessoal".
As consequências desse despreparo atingem tanto os pacientes quanto os profissionais, que não raro desenvolvem problemas psicológicos, segundo Magalhães.Imagem da Editoria de Arte/Folhapress

DEPRESSÃO

Estudo de 2009 feito pela divisão de saúde do trabalhador do Inca mostrou que, dos 159 trabalhadores do hospital em licença, 32% tinham histórico de transtornos mentais ou de comportamento, como depressão.
Para minimizar o problema, o instituto criou uma oficina de qualificação. No ano passado, foram treinados 120 alunos de hospitais federais e universitários.
É a experiência dessa primeira turma que o livro relata. Até o fim do ano, serão mais três turmas, num total de 600 pessoas.
O projeto, financiado pelo Einstein, foi viabilizado por portaria que permite a hospitais de excelência destinar a contribuição social que deveria ser recolhida ao governo a projetos para o SUS.
A oficina começa em um consultório fictício no qual um médico é escolhido para dar uma notícia. Atores representam o paciente e parentes. A cena é seguida pelos demais alunos através de um vidro espelhado. Depois, o grupo discute a forma como a conversa foi conduzida.
Nas semanas seguintes, há a discussão de casos vivenciados. A equipe é apresentada ao protocolo Spikes.
A cirurgiã Patrícia Patury, do setor de ginecologia oncológica do Inca, disse que o curso mudou a forma como ela conversa com os pacientes antes de uma operação.
"Aprendi a dosar as informações sobre riscos e benefícios", diz ela, que enfrentou problemas por não ter apresentado os perigos de uma biópsia a uma paciente que surgiu com lesão na vagina.
"Ela já tinha tratado câncer de colo de útero e a lesão podia ser indicativo de novo tumor. Expliquei que era preciso fazer biópsia. No procedimento, a bexiga dela se abriu numa fístula, que fez com que a urina ficasse vazando", conta.
A paciente, revoltada, chamou o marido, que ameaçou a equipe. "Eu tinha que ter deixado claro para ela a possibilidade de isso acontecer, apesar de ser raro."
Fonte: Folha.com
Por: Denise Menchen
Nota publicada em Psicologado News

Relações não duram porque a maioria não enxerga o outro como ele é, diz psicólogo.

O psicólogo Jorge Bucay esteve no Brasil para lançar livro escrito com a colega Silvia Salinas (Amar de Olhos Abertos, Editora Sextante) e deu uma entrevista para a Folha sobre o tema de seu livro, relacionamentos. 
confira abaixo:
Folha - O que significa amar de olhos abertos?

Jorge Bucay - Gosto de uma definição que diz que o amor é a simples alegria pela existência do outro. Não é possessão, nem felicidade necessariamente. E por isso "com os olhos abertos". O amor cego não aceita o outro verdadeiramente como ele é.

Por que tanta gente prefere a intensidade da paixão, mesmo sabendo que é efêmera, a construir algo mais sólido?

É maravilhoso estar apaixonado e muitos preferem a intensidade superficial à profundidade eterna. Mas me pergunto como as pessoas pensam em ficar somente nisso. Qual o sentido de estar apaixonado perdidamente o tempo todo? Penso que é uma questão de maturidade.

Também tem a ver com a nossa sociedade, que adora emoções intensas. Procuramos correr mais rápido, chegar antes, desfrutar intensamente. A paixão é como uma droga: no seu momento fugaz faz pensar que você é feliz e não precisa de mais nada. Um olhar, uma palavra te levam aos melhores lugares.

Como construir uma relação mais profunda?

Seria bom estar preparado para saber que a paixão acaba. Amadurecer significa também desfrutar das coisas que o amor dá, como compartilhar o silêncio e não um beijo, saber que a pessoa está ali, ainda que não esteja ao meu lado. É preciso abrir os olhos, e isso é uma decisão. Ver o par na sua essência.

Mas primeiro é preciso estar bem consigo mesmo. Não se deve procurar o sentido da própria vida no companheiro ou nos filhos.

Você deve responder a três perguntas básicas nesta ordem: quem sou, aonde vou e com quem. É preciso que eu me conheça antes de te conhecer e que decida meu caminho antes de compartilhá-lo. Senão, é o outro quem vai dizer quem eu sou. E isso é uma carga muito grande.

O livro diz que as relações duram o que têm que durar, sejam semanas, seja uma vida.

Duram enquanto permitem que ambos cresçam. Significa conhecer-se, gostar de si mesmo, conhecer seus recursos e desenvolvê-los. Ao lado da pessoa amada, está a melhor oportunidade para isso. E essa é uma condição para construir um relacionamento. Um casal que não cresce, envelhece. E um casal que envelhece, morre.

O que leva ao fracasso?

Um dos grandes motivos de fracasso é não trocar intensidade por profundidade, viver querendo voltar aos tempos da paixão. Outro ponto de conflito é que as pessoas não conseguem deixar o papel que desempenhavam antes de casar, querem continuar sendo o "filhinho da mamãe", ou o "caçulinha da casa". Outro problema é a intolerância, a incapacidade de aceitar as diferenças, as pessoas discutem pelo dinheiro, pela criação dos filhos e, por fim, morrem sufocadas pela rotina.

E como enfrentar esses problemas ou desafios?

É preciso amor, atração e confiança. Comparo esses pilares a uma mesa de três pés. O tampo da mesa seria um projeto comum firme. Se faltar qualquer um desses elementos, a mesa cai. E sobre tudo isso deve-se montar outras coisas, como a capacidade de trabalhar juntos, de rir das mesmas coisas, de ser sexualmente compatíveis, sentir o outro como um apoio nos momentos difíceis. Às vezes a terapia ajuda, às vezes é um bom passaporte para a separação.

Como saber quando a relação chegou ao fim?

Se sinto que estou sempre no mesmo lugar, que me entedio, que não tenho vontade de estar com o outro, se sempre que saímos precisamos sair com outros casais pois não ficamos bem sozinhos, quando piadas como "o idiota do meu marido" ou a "bruxa da minha mulher" se tornam frequentes, algo não está funcionado.
Fonte: Folha
Divulgado por Psicologado News
Por: Gabriela Cupani

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Cursos online de Psicolgia

Cursos divulgados através do site psicologado.com


Lista de cursos online para você ampliar seus conhecimentos:

Curso Online de Transtorno Obsessivo Compulsivo
Curso de 60 horas com o objetivo de discutir o papel do psicólogo na identificação das características apresentadas pelo portador de TOC, auxiliando o seu diagnóstico, bem como sua atuação frente aos pacientes para controle e tratamento dos portadores desse transtorno.
http://www.portaleducacao.com.br/psicologia/cursos/202/curso-de-transtorno-obsessivo-compulsivo/afiliado/2632


Curso Online de Psicopatologia da Infância e Adolescência
Curso de 60 horas com o objetivo de favorecer a compreensão crítica dos processos, da psicodinâmica e principais sintomas e comportamentos envolvidos nos transtornos de personalidade.
http://www.portaleducacao.com.br/psicologia/cursos/300/curso-de-psicopatologia-da-infancia-e-adolescencia/afiliado/2632


Curso Online de Psicologia Hospitalar
Curso de 100 horas com o objetivo de ampliar a visão do papel do psicólogo no âmbito hospitalar, esclarecendo sobre os problemas enfrentados e possíveis atuações do psicólogo dentro do hospital.
http://www.portaleducacao.com.br/psicologia/cursos/220/curso-de-psicologia-hospitalar/afiliado/2632


Curso Online de Psicologia Clínica
Curso de 80 horas com o objetivo de conhecer a Psicologia, sua história e pensamentos centrais; Implementar o conhecimento acerca da Psicologia Clínica, suas principais abordagens teóricas e formas de intervenção.
http://www.portaleducacao.com.br/psicologia/cursos/167/curso-de-psicologia-clinica/afiliado/2632


Curso Online de Psicodiagnóstico
Curso de 100 horas com o objetivo de possibilitar ao aluno a compreensão etapas e técnicas do processo Psicodiagnóstico de crianças, adolescentes e adultos. Além do planejamento de bateria de testes.
http://www.portaleducacao.com.br/psicologia/cursos/314/curso-de-psicodiagnostico/afiliado/2632


Curso Online de Dinâmicas de Grupo
Curso de 60 horas com o objetivo de oferecer subsídios para coordenar atividades grupais por meio de aplicação de dinâmicas de grupo a serem utilizadas na área organizacional, educacional e comunitária.
http://www.portaleducacao.com.br/psicologia/cursos/404/curso-de-dinamicas-de-grupo/afiliado/2632


Curso Online de Distúrbios de Aprendizagem

Curso de 60 horas com o objetivo de conceituar as teorias das dificuldades de aprendizagem e sintetizar dificuldades de Aprendizagem e memória, suscitando intervenções da família e da escola.
http://www.portaleducacao.com.br/pedagogia/cursos/64/curso-de-disturbios-de-aprendizagem/afiliado/2632
Dentre as vantagens dos cursos Online, podemos destacar:

1. Flexibilidade de horário: você estuda no momento em que lhe for mais apropriado.
2. Flexibilidade de lugar: você estuda no lugar em que julgar mais conveniente.
3. Flexibilidade de ritmo: você evolui de acordo com o seu ritmo, de acordo com sua velocidade de aprendizagem.
4. Acompanhamento individual: o tutor lhe orientará de acordo com suas necessidades.
5. Certificado como reconhecimento aos aprovados

terça-feira, 21 de setembro de 2010

Vitória da luta antimanicomial em processo judicial

O ex-conselheiro e ex-presidente do Conselho Federal de Psicologia, Marcus Vinícius de Oliveira obteve ganho de causa no processo movido pela Federação Brasileira de Hospitais (FBH) no qual era acusado de estar “sistematicamente difamando e caluniando os hospitais psiquiátricos brasileiros, seus dirigentes e demais profissionais, através de publicações oficiais do Conselho Federal de Psicologia, artigos publicados em revistas e em entrevistas atribuindo a todos, entre outras mazelas que o hospital psiquiátrico é uma instituição sinistra onde ocorreriam torturas e assassinatos”.
O processo, que tramitava desde 2002, foi iniciado pouco após a publicação do livro “A Instituição Sinistra” organizado por Oliveira que, à época, era vice-presidente do CFP.
Oliveira afirma que esta foi uma vitória importante sobre a tentativa de impedir a liberdade de expressão da militância antimanicomial. “Entendo que essa vitória é de toda a militância antimanicomial que teve assim reafirmado o horizonte ético que nos motiva”, disse.
Para o CFP essa é uma conquista importante no contexto atual de criminalização dos movimentos sociais em que as disputas são levadas à justiça com intuito de calar as vozes que questionam práticas da nossa sociedade.
por: POL
Veja aqui a decisão

30 anos da morte do professor suiço Jean Piaget

  Jean PiagetFormado em Biologia, mas interessado no estudo da inteligência e do pensamento, ele se especializou em psicologia infantil durante mais de 50 anos de pesquisas que lhe deram renome mundial e inúmeros discípulos, inclusive no Brasil, onde muitas escolas ainda seguem sua orientação. Segundo ele, uma criança não pode ser forçada, pela escola ou família, a desenvolver sua compreensão mais depressa do que permite sua evolução natural.
"A nossa cultura acaba de perder um dos maiores gênios do século XX", lamentou a professora da Universidade de São Paulo, Zélia Ramozzi, estudiosa da obra de Piaget."Perder Piaget é perder o líder interdisciplinar que procura, na Psicologia do Desenvolvimento da inteligência infantil, um método seguro para encontrar o misterioso vínculo que reúne a vida orgânica e a inteligência", declarou a professora da Universidade Estadual de Campinas, Amélia Domingues de Castro.

A teoria desenvolvida por Jean Piaget defende a descoberta do mundo pela própria criança. Numa das muitas entrevistas que deu durante seus anos de trabalho, Piaget declarou ao Estado que "o objetivo da Educação não é aumentar a quantidade de conhecimento, mas criar possibilidades para a criança inventar e descobrir. É de criar pessoas capazes de fazer coisas novas".

Piaget nasceu em 9 de agosto de 1896, em Neuchâtel, Suíça, em cuja universidade estudou Biologia especializando-se em Zoologia. Em 1921 Piaget foi nomeado diretor do Instituto de Estudos de Genebra, e mais tarde foi catedrático das universidades de Lausanne e Paris. Pouco a pouco foi se interessando primeiro pela Epistemologia e pela Lógica e, finalmente, pela Psicologia, terreno em que, segundo muitos, teria exercido uma influência semelhante à de Freud.

Muito simples, chegou uma vez a ser barrado pelo porteiro do prédio da ONU, que exigiu passaporte diplomático daquele senhor que chegava de bicicleta para fazer uma conferência para um auditório lotado.Doutor honorário de mais de 30 universidades, Piaget escreveu mais de 40 livros e um grande número de artigos.Entre suas obras mais conhecidas estão A linguagem e o pensamento da criança, A representação do mundo na criança, O nascimento da inteligência da criança, Memória e inteligência e Epistemologia genética.

por: Kleyson Matos
Fonte: Estadão

Como comprovar o analfabetismo funcional?

escrevendoPesquisadores do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo (HC/USP) estão testando um método cognitivo criado na Universidade Harvard, nos Estados Unidos, para avaliar o analfabetismo funcional de pacientes, principalmente idosos. O analfabeto funcional (apesar de saber ler e escrever) tem problemas na compreensão de textos e na capacidade de inferir informações. Ele não consegue, por exemplo, entender um extrato bancário ou uma receita médica.
O problema é muito comum entre idosos, não necessariamente apenas pela baixa escolaridade, mas também porque doenças típicas do envelhecimento, como Alzheimer e outras demências, afetam as habilidades cognitivas.Nessa avaliação, pesquisadores brasileiros aplicaram o teste americano conhecido como Tofhla (do inglês Test of functional health literacy in adults) em 198 mulheres e 114 homens saudáveis, entre 19 e 81 anos, com níveis variados de escolaridade: de 1 a 12 anos de estudo (a maioria tinha entre 4 e 7 anos).
Antes da aplicação, os voluntários precisavam ler instruções para se preparar para um exame radiológico do estômago. O analfabetismo funcional foi detectado em 32% do grupo. Acima dos 65 anos, 50% dos participantes não conseguiram entender as informações, algumas compostas por números, e calcular corretamente os horários da medicação, por exemplo. O próximo passo do estudo é analisar se o hábito da leitura influencia os resultados do teste.

por: Kleyson Matos

Fonte: Revista Mente e Cérebro

Mito ou verdade: eventos do dia podem ser incorporados ao sonho?

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No universo das pesquisas sobre o sono, os sonhos são quase uma caixa-preta. Mas uma coisa que os cientistas já discerniram é o padrão peculiar, mas previsível, no qual os sonhos tendem a ocorrer. Uma pesquisa sugere que grande parte do que acontece em um sonho é único daquele sonho. Porém, alguns eventos do dia da pessoa podem ser incorporados aos sonhos em dois estágios.

Primeiro, há o estágio “resíduo do dia”, no qual eventos emocionais podem entrar nos sonhos da pessoa naquela noite. Mas isso é seguido pelo ainda mais misterioso efeito “atraso do sonho”, no qual esses eventos desaparecem do cenário onírico – muitas vezes para serem incorporados aproximadamente uma semana depois. Este atraso é documentado em estudos desde a década de 1980.
Um estudo de 2004 publicado no “The Journal of Sleep Research” começou desvendar esse ciclo. Pesquisadores revisaram os diários de 470 pessoas que registraram seus sonhos ao longo de uma semana. O efeito do atraso do sonho foi mais forte em pessoas que viam seus sonhos como uma oportunidade de autoentendimento; seus sonhos muitas vezes envolviam a resolução de problemas ou emoções ligadas a relacionamentos.
Os pesquisadores especularam que os sonhos atrasados eram uma forma de a mente trabalhar dificuldades interpessoais e até “reformular” memórias negativas, transformando-as em mais positivas. Outros estudos também mostraram uma relação entre os sonhos e este tipo de processamento de memória emocional.
Conclusão: o ciclo do sonho pode ser muito mais longo do que apenas uma noite

por: Anahad O'Connor

Transtornos mentais são a terceira causa de afastamento do trabalho

por: G1 - Jornal Hoje

Transtorno mentalDepressão, ansiedade e stress ocupam o terceiro lugar na lista das doenças que mais afastam o trabalhador do emprego por mais de quinze dias. A maioria das pessoas nem percebe que está doente.
Imagine uma ponte. Se ela receber mais peso do que consegue suportar pode ceder. Com a gente acontece o mesmo. Às vezes, o peso é tanto, que fica difícil aguentar.
Uma profissional financeira demorou até entender que precisava de ajuda médica.
O doutor brincava que eu estava com o meu carro atolado, que eu tinha que desatolar o carro para continuar andando”, conta.

Cinco milhões de brasileiros tem problemas de saúde mental graves. Boa parte nem sabe disso. “Ela vai fazer em torno de sete consultas, antes de ser diagnosticado um quadro mental”, afirma Kalil Duailib, Associação Brasileira de Psiquiatria.
Os transtornos mentais são o terceiro motivo de afastamento do trabalho por mais de 15 dias. Segundo uma psicóloga, a maior parte dos transtornos mentais são causados por:
- violência como medo de assalto, insegurança.
- problemas no trabalho provocados por sobrecarga
- preocupação com família como saúde de pessoas próximas ou com filhos
- e problemas financeiros como pagamento de contas e dívidas.
O corpo dá sinais de alerta:
- dores sem causa específica
- sensação de formigamento pelo corpo
- aperto no peito
- sensação contínua de mal estar
- perda de vontade de fazer coisas rotineiras
O emocional também muda.
Primeiro lugar depressão, depois apatia, transtorno bi-polar e agressividade”, afirma Ana Cristina Limongi França, professora de psicologia.
Uma central de atendimento só com psicóloga para atender funcionários. Quem está do outro lado da linha pode desabafar, falar dos problemas que tem em casa, no trabalho. 86 empresas de todo o Brasil contrataram esse serviço na tentativa de evitar afastamento por transtornos mentais.
A ideia é, preventivamente, ouvir essas pessoas, ajudá-las a identificar o problema para que seja resolvido mais rapidamente”, explica Liliana Scheliga, diretora clínica da empresa.
A funcionária deprimida passou por um tratamento. Sabe que vai demorar para voltar ao normal, mas já sabe o caminho. “Eu sei que é uma coisa lenta. Primeiro a gente desatola o carro e você vai pegando tua velocidade de novo”, afirma.

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Inserção do idoso no mercado de trabalho: uma inclusão social.

                                                                                                              
Resumo
O presente artigo pretende discutir a inserção do idoso no mercado de trabalho, apontando a autonomia do sujeito como prioridade dentro das vertentes de trabalho formal, informal e voluntário, prestados com satisfação e dignidade. Defende o uso da experiência adquirida como multiplicador de conhecimento. Enfocando em tal explanação o estatuto do idoso, que apesar de recente é uma das bases que sustentam a luta por sua inclusão social.
Na evolução do estudo foi percebida a evolução da comunidade em consonância com o fortalecimento e manutenção da cultura.

Palavras-chave: Idoso, mercado de trabalho, autonomia.

O atual envelhecimento global é um processo sem precedentes, previsível e perfeitamente viável: não é nenhuma crise. Os políticos agem como se essa importante alteração demográfica, com suas enormes implicações econômicas e sociais, pudesse ser colocada á margem nos debates do bem estar social.
TERCEIRA IDADE E DESENVOLVIMENTO, 199, P.1

            Trabalhar a conceituação de idoso nos remete essencialmente a duas diferenciações basilares: velhice e envelhecimento, processo que se inicia ao nascimento, fenômeno inflexível que apresenta características diferenciadas de acordo com a cultura, com o tempo e o espaço; já a velhice é a última fase do ciclo vital do ser. Segundo a Organização das Nações Unidas – ONU considera-se idoso, nos países desenvolvidos, pessoa com idade de 65 anos e para os países em desenvolvimento 60 anos, apreciando ainda dimensões biológica, cronológica, psicológica, existencial, cultural, econômica, política, social, entre outras para se definir a categoria.
            O “ser idoso” deveria significar a continuação da luta por direitos civis, a função mantenedora de guardião do passado, mas nesta sociedade moderna capitalista o idoso apresenta um maior referencial biográfico que biológico. Ao jovem é a promessa de ingresso no mercado de trabalho e realizações futuras, em contraposição, ao idoso é destinada sua retirada através da aposentadoria e aguardo de sua morte, apresentando de forma gritante a percepção preconceituosa da velhice que ainda pode ser vista como declínio e improdutividade.
            O idoso pode contribuir com suas experiências diversificadas e adquiridas em anos de vivência e de trabalho. Indivíduos saudáveis na dita terceira idade ainda podem exercer atividades profissionais, por apresentarem capacidade física e intelectual e por possuírem conhecimentos e experiências acumuladas.
            O mercado de trabalho, entretanto, mostra-se preconceituoso, receoso, limitando a ocupação de determinados cargos obrigando o idoso a conviver com o problema de recolocação e inserção no mercado que valoriza o jovem e discrimina o “velho”, ao considerá-lo como um trabalhador que já se tornou improdutivo e obsoleto, coagindo muitos destes sujeitos aposentados ou apenas desempregados a esquadrinhar formas alternativas de complementação de renda objetivando a garantia de recursos como planos de saúde, medicação, garantias de sobrevivência e, em casos outros, até mesmo o sustento de sua família até a criação dos netos, ressaltando que o benefício aposentadoria auferida não contempla, na maioria dos casos, a conservação do padrão mínimo de sobrevivência, porém, na ótica econômica esses indivíduos são admitidos como contributivos, sendo, numa esfera social, colaboradores na realização de trabalhos indiretos, participando desta feita do contexto social.
            A partir destes novos horizontes de ambiente laboral e constituição de renda um novo olhar começa a dominar o consciente coletivo que, a partir da implementação do Estatuto do Idoso e da divulgação dos direitos e benefícios amparados por ele, uma nova forma de tratamento se inaugurou e, a cada dia, vai ganhando espaço na prática do que se concernem à velhice, deixando por derradeiro a significação de idoso como representação de dependência, saúde frágil e ociosidade.
            Vários segmentos profissionais e ambientes voltados para o amparo do idoso têm-se preocupado em adaptar as condições de trabalho de forma a atender as especificidades desta fase da vida, uma vez que, segundo dados estatísticos “o envelhecimento da população está se acentuando: em 2000, o grupo de 0 a 14 anos representava 30% da população brasileira, enquanto os maiores de 65 anos eram apenas 5%; em 2050, os dois grupos se igualarão em 18 %. E mais, pela Revisão em 2004 da projeção de população do IBGE – Instituto Brasileiro de geografia e estatística, em 2062. O número de brasileiros vai parar de aumentar” –, Projeção da população no Brasil IBGE 30/08/04; e a quantidade de anos vividos está em constante ascensão, relacionando-se a este interesse pela melhoria de serviço que proporcione qualidade de vida, novos costume e hábitos, como por exemplo, exercícios físicos, atividades de lazer, cursos, novas funções dentro da família.
Acompanhando esta nova tendência social, o “velho” está deixando de ser visto sob uma aparência negativa para ser abarcado sob um olhar de resgate da cidadania, da autonomia enquanto sujeito, tornando arcaica, cada vez mais, a ideia de inutilidade preconcebida.
A modalidade formal de trabalho, disciplinada pela CLT – Consolidação das Leis do Trabalho impõe exigências para o empregador, o que dificulta o acesso dos trabalhadores, principalmente idosos, e acaba, com tais exigências, colaborando para a promoção da exclusão do trabalho do idoso. Em contra partida, outros segmentos laborais proporcionam tal inserção de maneira menos agressiva à sociedade e ao trabalhador idoso.
A significação de Trabalho abrange a aplicação das forças e faculdades humanas para alcançar determinado fim, atividade física ou intelectual, necessária a qualquer tarefa, serviço ou empreendimento; exercício dessa atividade como ocupação permanente, ofício, profissão. 
Vale dizer que há diferença entre trabalho e emprego. Enquanto o primeiro envolve a atividade executada em si, o segundo refere-se ao cargo ou ocupação de um indivíduo numa empresa ou órgão público.
“No mundo industrial falta o vínculo entre o trabalho e o resto da vida, assim muitas vezes se separa totalmente o trabalho do prazer, da renovação, do preenchimento e da satisfação.”
 (ALBORNOZ, 2004, p. 9)

           As atividades ditas “informais”, ou seja, aquelas caracterizadas pela ausência de contrato formal de trabalho e intermitência de renda são indicadores positivamente correlacionados com a “terceira idade”, uma vez que esta alternativa supriu a falta de fonte de renda estável. (RIBEIRO SOARES, 2003, p. 55)
            Na probabilidade de retorno, não financeiro e sim de autonomia, ressaltamos como vertente o trabalho voluntário que se origina da atividade desempenhada sem recebimento de qualquer contraprestação que importe em remuneração ou auferimento de lucro. E graças a este segmento que muitas ações da sociedade organizada têm suprido o fraco investimento ou a falta de investimento governamental em saúde, educação, lazer, entre outros.[1]
            Dentro de um contexto familiar, os considerados idosos, homens e mulheres acima de 60 anos, estão procurando uma forma de se distrair, sendo ela aguçando a própria vaidade como também exercendo atividades funcionais, como cuidar dos netos – crianças e ou adolescentes, outros idosos doentes, prestando serviços de banco para familiares, com o intuito de resgatar um orgulho de si ou até mesmo gratificação remunerada pelos serviços prestados. Foi uma forma que encontraram de mostrar que são capazes.
            O trabalho em sua totalidade, independente de aclive formal, informal, voluntária ou familiar, para o idoso, é uma alternativa para a conservação e até mesmo sustentação da autonomia do ser produtivo, da independência e dignidade. A auto satisfação consiste em lhe oferecer possibilidades de buscar as oportunidades que lhe permita desenvolver seu potencial próprio, bem como acesso às instituições da sociedade que tratem de matérias culturais, educacional, espiritual e recreativo. E para que possa viver com dignidade, é necessário garantir-lhe uma vida segura, livre de exploração e abusos, um tratamento justo e igualitário, respeitando seus limites.
            O Estatuto do Idoso aponta que pessoas com mais de 60 anos tem o direito ao exercício de atividades profissionais respeitando a condição física, intelectual e psíquica destes sujeitos e, pela mesma lei se define que é vedada a discriminação e a fixação de limite máximo de idade, salvo casos em que a natureza do cargo exigir, ou seja, grande concentração de esforço físico. O Estatuto prevê ainda que o Poder Público deva criar programas de profissionalização especializada. Tudo isso existe na lei, mas não está sendo aplicado na prática.[2]
   O idoso precisa ser respeitado como cidadão, como ente social. O envelhecimento não pode ser visto como etapa inferior da vida.
            O envelhecimento da população é inevitável e deverá ser devidamente absorvida pela sociedade, pois os idosos não farão mais parte de um grupo minoritário.
            As empresas ainda não se deram conta da importância do trabalho do idoso, onde a participação do idoso no mercado de trabalho é importante não só em termos de seu impacto no índice de população economicamente ativa, mas também na qualidade de vida deste trabalhador.
            Por tudo isso, deve-se evitar que todos os esforços e ações em prol dos idosos não resultem na manutenção de um segmento populacional passivo e desencantado com a vida.
            A sociedade, em conjunto com segmentos políticos e formadores de opinião, terá de reformular seus conceitos de idade e envelhecimento, e não poderão limitar-se apenas às garantias de saúde e de cuidados aos mais velhos. Cada vez mais, as pessoas idosas devem ser e sentir-se efetivamente integradas ao meio em que vivem, como partícipes e cidadãos ativos. Um dos componentes mais importantes desta nova sociedade será, sem dúvida, a atitude dos próprios idosos que, em número crescente e mais reconhecido, terão representatividade maior, ou melhor: terão a representatividade devida ao novo contexto social.
            Os idosos não devem ser tratados como inválidos, incapacitados ou mesmo como um gueto social. O conceito de velho precisa ser reavaliado. Como chamar de “velha” ou de “idosa” uma terça parte garantida da população mundial? É necessário reestruturar os setores produtivos da sociedade, proporcionando aos idosos algumas oportunidades de renda que lhes permitam uma sobrevivência digna.
            Como nos coloca Alves Júnior (2004) a sociedade deverá se auto programar em termos de equipamento social adequado – lazer, saúde, urbanização, educação, alimentação e transporte – sem a preocupação de criar desvãos ou compartimentos para os mais velhos. Na verdade, de agora em diante o grande desafio da humanidade será proporcionar aos idosos a integração social indispensável.
            Por fim, precisamos entender que o idoso deve ter a opção. Deve poder escolher entre continuar trabalhando ou parar de trabalhar. É preciso pensar no idoso enquanto sujeito ativo que se inclui de forma ajustada na sociedade em que vive.  



[1] Faça Trabalho voluntário na terceira idade. Disponível em: www.globosaude.com.br. 06/04/2010.
[2] Lei nº 10.741, de 1º de Outubro de 2003; Capítulo VI

Referências

ALBORNOZ, Suzana. O que é trabalho. São Paulo, SP: Brasiliense, 2004.

ALVES JÚNIOR, E. D. Procurando superar a modelização de um modo de envelhecer. Movimento, Porto Alegre, v. 10, n. 2, p. 57-71, maio/ago. 2004

CAMARANO, A. A., BELTRÃO, K. I, PASCOM, A. R. P., MEDEIROS, M., GOLDANI, A. M. Como vive o idoso brasileiro. In: CAMARANO, A.. A. (org.). Muito além dos 60: os novos idosos brasileiros. Rio de Janeiro: IPEA, p. 19-74, 1999.

JUNG, C. G. As etapas da vida. In: Idem. Obras Completas. Petrópolis: Vozes, 1984. v. VIII/2, cap. XVI, p. 335-353.
RIBEIRO SOARES, Laura Tavares. O Desastre Social. Rio de Janeiro, RJ: Afiliada, 2003.

Lei nº 10.741, Estatuto do Idoso. 1º de Outubro de 2003.